O número crescente de lesão hepática causada por ervas e suplementos dietéticos tem sido uma preocupação nos países ocidentais.
Nos Estados Unidos, uma pesquisa do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) de 2007 a 2008 revelou que cerca de 50% dos americanos adultos admitiram ter usado suplementos alimentares para “melhorar” ou “manter” saúde geral, objetivando perda de peso, melhora da estética corporal, prevenção de doenças e retardo dos efeitos do envelhecimento. Pesquisas mais recentes mostram uma tendência crescente do uso destas substâncias, em comparação aos anos anteriores, com prevalência de 64- 69%.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que o mercado global destes insumos nos EUA tenha sido de aproximadamente US$ 107 bilhões em 2017. A alta despesa em produtos ditos naturais ressalta a crença popular sustentada de que esses produtos têm benefícios que compensam seus custos.
Ao contrário das drogas convencionais, que para serem liberadas precisam ser submetidas a estudos clínicos bem desenhados comprovando a sua eficácia e segurança, as medicações ditas naturais podem ser comercializadas sem esses requisitos. Embora possa existir benefício no uso destas substâncias, as preocupações de segurança e agressão ao organismo estão sendo cada vez mais reconhecidas, em particular na forma de hepatotoxicidade.
A incidência estimada de hepatotoxicidade em estudos prospectivos confiáveis varia de 1 a 3 indivíduos por 100.000 habitantes /ano.
Danos hepáticos causados por ervas têm acontecido predominantemente nas mulheres, promovendo lesão hepatocelular, com transaminases acentuadamente elevadas na apresentação inicial. O reconhecimento da hepatotoxicidade à base de plantas é particularmente desafiador para o hepatologista porque muitas vezes estas ervas são desconhecidas ou o seu uso é omitido pelo paciente.
A injúria hepática causada por ervas e suplementos dietéticos pode ser assintomática, descoberta através de exames laboratoriais de rotina e, também, aparecer de forma extremamente grave, ao ponto de promover a insuficiência hepática. Tem sido, atualmente, importante causa de transplante hepático e, até mesmo, óbito de pacientes previamente hígidos. Os sintomas, quando presentes, podem ser inespecíficos da doença hepática, como náuseas, anorexia, mal-estar, fadiga, dor no quadrante superior direito do abdome, prurido e icterícia.
São exemplos de ervas que causam danos hepáticos: aloe vera; boldo; cáscara sagrada; centella asiática; erva de são joão; chaparral; chá verde; confrey; erva cavalinha; kava-kava; noni; senna; espirulina; valeriana; espinheira santa; poejo; picão preto; sacaca; tribulus terrestris e garcinia cambojia.
Os chamados complementos alimentares alternativos (suplementos nutricionais, vitaminas, antioxidantes, fórmulas para reduzir o peso e preparações mal definidas para “moldar o corpo”) também têm causado um grande número de lesões hepáticas graves. A composição da maioria destes produtos não é suficientemente caracterizada, e, muitas vezes, nem são rotulados.
O tão popular suplemento nutricional de ervas em diversas apresentações – cápsulas, shakes, chás – é suspeito de ser causador de danos hepáticos graves. Existem relatos publicados em várias partes do mundo sobre lesões hepáticas irreversíveis após a ingestão destes produtos.
Óleo de cártamo (Ácido Linoleico) tem sido implicado em casos de hepatite aguda, inclusive hepatite fulminante.
Esteróides anabolizantes (derivados sintéticos da testosterona, como o stanozolol, oxandrolona, proprionato de testosterona e cipionato de testosterona) são tradicionalmente conhecidos por causar hepatotoxicidade, e promover o desenvolvimento de câncer hepático. Eles são adicionados ilegalmente a produtos de musculação e vendidos sem receita médica.
A medicina como ciência deve ser baseada em evidencia cientifica. Sendo, assim, evite o uso de multifórmulas contendo diversos produtos, suplementos alimentares e ervas sem uma consulta prévia ao seu médico. A prevenção ainda é o melhor remédio. Procure o seu Hepatologista! Hepatotoxicidade por Ervas e Suplementos Alimentares.
Dra. Kleyse Farias
Hepatologista